terça-feira, 7 de setembro de 2010

Diário do Fred - 1988


Dia 1 de janeiro de 1988




Acho que 1988 começou muito bem... pelo menos pra mim começou excelentemente bem!

Nem se eu tivesse o poder de imaginar o que aconteceria ontem a noite, eu conseguiria idealizar momentos tão bons.

Ainda era manhã quando o Pedrão me ligou, estava querendo saber se o Clube Avin estaria de pé para o reveillon, eu dei certeza que iria, mas eu não estava muito animado não, pois nos últimos anos o clube avin estava meio caído, não dava tanta gente, e quando dava, era gente esquisita, mas como o Pedrão estava no meio da organização dessa festa eu não podia deixá-lo na mão, somos muito amigos, não podia deixar ele sozinho nessa.

Mais tarde o Paulo e o Carlos me ligaram pedindo para que fossemos todos juntos para o Avin, eu concordei, o clube ficava perto da praia, um pouco longe daqui de casa, então, seria mais cômodo irmos todos juntos. O Ricardo passou o dia todo falando do quanto essa festa seria boa, que iria enlouquecer naquela noite, e o Denis estava tranqüilo assistindo seu futebol, e eu criando coragem para levantar do sofá e ir fazer algo de útil, Ricardo é filho da minha madrasta, até bacana, mas as vezes ele torra a paciência, já o Denis é um bom irmão.

Já era 21h30min e todos estavam prontos, estavam enchendo meu saco, eu não estava nem um pingo afim de ir mesmo, então se demorasse mil anos pra sair de casa, eu não ligaria.

O clube Avin estava muito diferente do que era. O Pedrão caprichou na entrada, tinha umas luzes muito loucas, dava até pra ficar zonzo. Fiquei pasmo, pois não era nem 22h e o clube estava cheio, os bares funcionando, a galera bem vestida, uma música dançante tocando sem parar. Empolguei-me.

Ficamos ansiosos pra ver o Pedro e lhe dar os parabéns, ficamos no bar perto da entrada o esperando, todos estávamos bebendo champanhe, só o Ricardo estava com uísque. Quando era 22h15min mais ou menos ele chegou, acompanhado de sua namorada, e de uma moça que eu nunca tinha visto antes.

Fazia pouco tempo que o Pedrão estava namorando, ele estava meio bobão, a Clara o colocou na linha, pensei comigo mesmo naquela hora: ‘’coitado do Pedrão.’’ Está pra aparecer alguma mulher que me transforme assim.

O Pedro apresentou a amiga de Clara a nós cinco. Clara parecia um anjinho, loira com cachos no cabelo, estava com um vestido prata tomara que caia, ia até o joelho. Ricardo foi logo puxando papo com a moça chamada Valentina, achei um nome bonito, mas ela parecia muito metida, não falava muito, se encolhia sempre, achei-a meio retardada de início. Nem me preocupei em lhe dar ouvidos, mas não pude deixar de repará-la, ela estava bem bonita, com um vestido branco que arrastava no chão, tinha uns brilhos na parte de cima, o cabelo estava lindo, solto meio liso, e usava um batom escuro, achei diferente, mas nela ficou fantástico. Ricardo me cutucou como se desse um sinal de: ESSA É MINHA! Nem me dei o trabalho de devolver a cutucada, Ricardo estava irritante ontem, sua auto-estima ninguém tirava.

Mas teve um momento que percebi o quanto ela estava desconfortável com a gente, foi quando Clara se afastou dela para ir dançar com o Pedrão, eu estava vendo à hora dela sair correndo de nós, Paulo, Carlos e Denis me chamaram para ir noutro bar, mas não fui. Não havia nada que me interessasse lá, se fosse pra aturar aquela noite que estava até boa, eu aturaria ali mesmo, tinha uma ótima visão da pista de dança, e era bem localizado estrategicamente, se eu quisesse ir embora sem ninguém me ver, dava pra ir tranqüilo. Restou apenas eu, o Ricardo e a Valentina. Como eu não queria me intrometer na conversa dos dois, eu fazia perguntas apenas para o Ricardo que eu achava necessárias, na verdade, eu não queria ficar calado e sozinho. Assim que o Ricardo pediu licença para sair, não me lembro para onde ele foi. Eu não poderia deixar a moça conversando com as moscas, fui dar atenção para ela enquanto o Ricardo voltava.

Quando tive a oportunidade de escutar sua voz, rapidamente tudo o que eu pensava sobre sua antipatia caiu por terra, sua voz era tão doce, mesmo tendo que quase gritar pra que eu a escutasse, era uma seda, e fiquei pensando, como fui um babaca, como poderia pensar que ela seria metida e chata com essa voz? Esse jeitinho tímido de falar? Entendi por fim que tudo não passava de muita timidez e desconforto. Tentei então ser o mais agradável possível com ela, e engatamos um bom papo, deixei que ela falasse mais, era tão bom escutar aquela voz, me falou sobre um show que queria ter ido ontem a noite, escutei cada palavra que ela dizia com muita atenção, mas até então não me dava conta que eu estava me interessando, e tive uma súbita vontade de estar só com ela. Chamei-a para dançar, GRAÇAS A DEUS ela aceitou, ela se preocupou com o Ricardo, mas eu não me preocupei nem um pouco.

Enquanto dançávamos um idiota a segurou pela cintura, mais alto que eu um pouco, mas não me intimidei, percebi que ela não gostou e pedi para ele a soltar, ele riu-se, cresceu dentro de mim um ciúme queimante, fiquei tão louco, que a puxei pelo braço tomando todo cuidado para não machuca - lá, ela trombou em meu corpo e sua boca estava tão próxima da minha que o beijo foi inevitável... Ainda bem!

Aproveitei de minha loucura e decidi deixar o avin, ela não disse nada, acho que estava assustada comigo, mas nada fez. Seguiu-me quando a guiei até o carro, ela perguntou aonde iríamos finalmente, percebendo que eu estava fora de mim. Decidi fazer aquela noite especial pra ela, e eu disse radiante:-'' Você não me contou que queria ir pra outro lugar?'' Ela deu um sorriso doce, me dando a melhor sensação do mundo. Eu no inicio não queria demonstrar tudo aquilo, mas alguma coisa tinha mudado, o que eu mais queria é que ela visse o quanto eu me importava com ela. Rimos de todos que deixamos pra trás no caminho.

Chegando a Praia Bela lotada de gente, deixamos nossos sapatos dentro do carro, dobrei a barra da minha calça para não sujar de areia e saímos de mãos dadas, sua mão direita segurava a barra do vestido, o vento que batia em nós, fazia um lindo movimento no cabelo da Valentina, aquilo me deixava meio bobo, estaria eu me apaixonando por aquela moça quietinha, tímida, linda, interessante e fantástica?

Não sei o nome da música que o Capital Inicial estava tocando, mas era mais ou menos assim...

(Uuuu...)

Você é tão acostumada

A sempre ter razão

(Huuum...)

Você é tão articulada

Quando fala não pede atenção

O poder de dominar é tentador

Eu já não sinto nada

Sou todo torpor

É tão certo quanto calor do fogo

É tão certo quanto calor do fogo

Eu já não tenho escolha

E participo do seu jogo, participo

Não consigo dizer se é bom ou mal

Assim como o ar me parece vital

Onde quer que eu vá o que quer que eu faça

Sem você não tem graça



Fiz questão de decorar a música, afinal, era o que eu estava sentindo no momento, quando deu meia noite, os fogos iluminaram o céu, a abracei por tras, e la ficamos admirando o espetáculo. A deixei em casa sem prometer que a proucuraria, quero-lhe fazer uma surpresa, vou proucura-la amanhã.

Ela é perfeita, perfeita pra mim.

Um comentário:

  1. Júh, finalmente criei o meu blog!
    Dê uma conferida, se puder:
    http://relicariodaludy.blogspot.com/

    Como já te disse, gostei bastante do seu blog. Mt criativo e ótimos textos.
    Lá vamos nós =D

    ResponderExcluir