sábado, 4 de setembro de 2010

Diário da Valentina - 1988



Dia 1 de janeiro de 1988


Ontem a noite foi fantástico, todos aqueles fogos colorindo o céu me deixaram fascinada.

e não foram só os fogos, quem complementou a noite também.

O clube Avin estava lotado, porém, dava pra perceber todos, uns vestidos de branco, outros de prata, muitos supersticiosos acompanhavam a passagem de ano, carregados de muita champanhe, uísque e vinhos.

Eu estava simples, um vestido branco que amarrava as alças no pescoço, longo, um salto discreto,e no bojo do vestido havia detalhes com paête prata. O cabelo estava convencional, solto a franja de lado lisa e as madeixas onduladas, a maquiagem abusando do rimel e lápis preto, e um batom vermelho. Me diziam que batom dessa cor aumentava o volume da boca e deixava mais sensual, resolvi experimentar ontem, e acho que deu certo!

Fui à companhia da Clara, fidelíssima amiga, depois dela tanto insistir, fui com ela! Pedro, seu namorado, quem teve a idéia de irmos ao Avin. No início fiquei irritada dela fazer o que ele queria, porque há muito tempo tínhamos outra programação para esse dia, estávamos loucas pra ir ao show do capital inicial na praia, mas achei que teríamos outra oportunidade de ver Dinho... SIM, somos muito fãs dele.

Quando era 22h00min, eu e Clara estávamos de frente ao clube Avin, as luzes coloridas da entrada, toda a iluminação perfeita, começaram a me animar um pouco. Assim que adentramos a boate, Pedro foi de encontro a um grupo de rapazes, meio altos, dois estavam num estilo Sport , e 3 num estilo mais despojado, todos com trajes brancos, eram 5 em frente ao bar, que estava bem iluminado dando pra reparar o rosto de cada um. Clara me puxou para seguirmos Pedro, e assim que chegamos perto deles, fui apresentada a cada um deles, eram Carlos, meio baixo do cabelo ondulado moreno, Ricardo, bem malhado, cabeça raspada, Denis, meio gordinho, mas charmoso, Paulo, meio tímido dos olhos azuis, e Fred, cabelo preto liso, estava meio arrepiado, não muito forte, mas de um ótimo físico, alto o suficiente para mim, com um sorriso desconcertante, enfim, era o mais bonito deles. Quando digo que fulano ou cicrano era meio isso, ou meio daquele jeito, é porque pelo o que pude ver ontem, era meio aquilo mesmo!

Ricardo parecia muito comunicativo, e sempre dava um jeito de me introduzir na conversa deles, Pedro puxou clara para dançar e sumiram no meio da pista, entrei em pânico por 1 minuto, não sabia o que dizer, não sabia o que falar, mal conhecia os rapazes, e me encontrava na situação de encará-los e tomar cuidado para não dizer besteiras.

Denis, Carlos e Paulo foram pra pista dando a desculpa que precisavam dar uma checada no ambiente, mas, eu vi que o tempo todo olhavam um grupinho de meninas no outro bar. Fiquei mais aliviada, afinal, não teria que dar atenção a tanta gente, pra mim, cinco era demais.

Ricardo se ofereceu a me pagar uma bebida, mas recusei, ele pediu assim mesmo e me senti obrigada a beber, Fred, quando se pronunciava, era pra perguntar coisas nada haver com o momento, de início achei que ele era meio retardado, como numa festa de fim de ano, ele quer saber se Ricardo pagou isso ou aquilo, se tinha mandado consertar isso ou aquilo no carro. Acho que no fundo ele estava receoso, ou não queria mesmo papo comigo.

Isso começou a me incomodar, porque ele não falava nada pra mim? Algo que somente eu poderia responder? O que ele tinha contra mim? Fiquei paranóica certo momento, mas essa maluquice acabou quando Ricardo pediu licença para ir ao banheiro e Fred teve de me dar atenção.

Então, me surpreendi, o cara retardado começou a conversar como se nada tivesse acontecido.

Ele começou dizendo como o clube avin estava cheio aquela noite, que ele não esperava que fosse lotar daquele jeito, começamos a conversar sobre os planos para 1988, mas ele quase não falava os dele, sempre quando eu estava falando, ele fixava o olhar dele nos meus olhos, um modo de demonstrar atenção no que eu dizia, aquilo me deixou sem graça durante a conversar por muitas vezes, mas não me intimidei, então Fred delicadamente estendeu a mão a mim e disse: - Por favor?

Um gesto que me convidava para dançar, perguntei então: - e o Ricardo? – e ele me respondeu: - ele nem vai notar!

E ai fui para o centro da boate, pela primeira vez naquela noite me sentindo mais à vontade, Fred me deixava mais livre para eu dizer o que eu queria, sem ter medo de dizer coisas que não deveria.

Enquanto dançávamos, um rapaz muito alto se aproximou de nós, e passou a dançar conosco, de repente envolveu seus braços em minha cintura, e ai vem à surpresa, Fred pediu para o cara me soltar, mas ele nem o deu ouvidos, então Fred me puxou de uma vez pelo braço esquerdo parei de colada ao seu corpo e sem ter tempo de falar algo ou respirar, Fred me beijou, eu pensei em empurrá-lo e gritar : SEU RETARDADO! Mas me veio à mente aquele sorriso desconcertante que eu me rendi, e correspondi, assim que nos soltamos, ele olhou pra mim e disse gentilmente: -vem comigo?- Nem abri a boca para dizer nada, assim não estragaria o momento, apenas consenti com a cabeça.

Quando percebi que estava fora do Clube AVIN indo direto para um carro bonito, modelo sportivo preto, eu criei coragem e perguntei: - para onde vamos seu doido?- ele soltou um sorriso de canto de boca perfeito olhando pra mim e disse: - você não me disse que queria ir para outro lugar essa noite? . Na mesma hora entendi o que ele queria me dizer, estávamos a caminho da praia bela.

Eu estava incrédula, dentro do carro ficamos rindo de todos que deixamos pra trás, principalmente do Ricardo, que Fred me confidenciara o interesse que ele havia demonstrado por mim no início da festa. Quando comecei a escutar de longe Dinho ouro preto cantando, me arrepiou. Descemos do carro e antes de pisar na areia tiramos nossos sapatos e deixamos dentro dele. Fred dobrou a barra da calça dele até a canela e eu fui segurando meu vestido, e ao som da canção ‘’FOGO’’ nos abraçamos e ficamos juntos, e quando se iniciou o foguetório para a chegada do ano de 1988, foi perfeito, não há palavras para descrever o que senti. Aos 18 anos eu estava descobrindo um novo sentimento.

Cheguei em casa sem sono algum, já era quase 5 da manhã...

... Fred certamente me tirou o sono!

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